sexta-feira, 19 de abril de 2013

SEM LIÇENÇA VIII










um dia diferente...

(Cecília?

Imagino-te sempre, despertando entre o pôr e o nascer do sol, no vigor das luzes ténues...Revelas-te na beleza das sombras intocáveis, na luz vaga do amor pungente, constante surpresa... 
Dos perfumes, dos sabores e dos braços quentes, com a irresistível forma alma que incondicional ama, é frequente deixar-me ir nessa luz... que te traz difusa e especialmente bela, sempre, na forma e jeito insondável, com que te revela os movimentos...
Não sei, ainda hoje, como fazer passar o tempo sem te beber amiúde, sentindo-te ,nessa tua arte... MAIOR... nesse teu jeito de me manter desperto... nesse teu... ECO DO SILÊNCIO) 




Era um dia diferente
Quente, excessivamente húmido
Invadido por uma brisa que quase queimava
Os ocres eram mais intensos
Ouvia-se um piano
Sim, acordes possantes dum piano
As folhas caíam, como caem todos os dias de outono
Mas naquele dia era diferente
Talvez caíssem mais lentamente
Como o silêncio que se fazia sentir naquela tarde
Respirava-se volúpia em cada poro
Talvez fosse isso…
Percebeu-se quando os pássaros esvoaçaram em bando
O piano tocava
E o ar quente desvendava silhuetas embriagadas
Unas
E o piano tocava imponentemente
E o desejo gritava da terra
Da cama
Do restolho
E os olhares bebiam-se na pele
E o gemido do piano
E as folhas dos plátanos
E o êxtase da paixão
Era um dia diferente, quente
E o toque
E o desabrochar extasiado dos aromas
E à volta, não acontecia nada
E tudo acontecia num só tempo, ali, naquele instante
E as peles queimavam-se em toques levíssimos
E os pássaros esvoaçavam em bando
E as bocas silenciavam palavras
Os lábios humedeciam os corpos
Era um dia de outono, diferente
Excessivamente húmido
Ardentemente exaltado
E o piano tocava
E as bocas beijavam-se
E as sombras incendiavam
E os corpos deixavam-se morrer, lentamente
Ébrios
Jaziam na paixão esventrada
Voluptuosa
Em silêncio, sem tempo
Era um dia diferente…